Tédio



  
Sinto minha alma pesada
Meu corpo mais parece uma âncora
Minha pele oxidou-se com o tempo
E quem vejo no espelho?!
Um mero reflexo do que um dia eu fui
Um espectro
Minha cama é o meu porto
Nela me atraquei e já não tenho vontade de a abandonar
O ritmo do mundo parece-me supersônico
Nem que quisesse o conseguia acompanhar
O reumatismo tem sido uma das minhas alegrias
As dores me lembram que ainda estou viva
Mas por quanto tempo mais?
Quanto menor for, melhor será
Me perco do meu corpo com uma certa frequência
De certo me preparo para a vida pós terra
Vou esquecendo-me das caras, das casas
das ruas, das praças, dos filhos, das santas
da lua, das nuvens e do mar
Até o dia, em que me esquecerei de respirar


Foto por: https://instagram.com/mussemussemusse



Por: Dércio Ferreira

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