A morte do herói



O meu filme não termina com o herói beijando a mocinha
Na verdade é assim que ele inicia
Ganhei consciência da minha existência vendo aquela cena
Minha fantasia e sonhos de infância entregues a descrença
Tudo porque o meu herói resolveu virar vilão
Resolveu dar ouvidos ao seu lado humano
Abdicou da glória e enfurecido
Partiu para agressão
Deixou que os punhos falassem
Aquele ser que para mim era celestial fraquejou
Mostrou-me o demónio escondido nele
Reuniu todas suas forças e desceu a mão
Só que desta vez o seu alvo não eram os criminosos e larápios
Desta vez seu alvo era um anjo
O meu anjo
Aquele que soprou-me a vida e me apresentou o mundo
Aquele em que num altar, o herói jurou amar mais do que tudo
O meu anjo,
O meu herói,
E eu, ali entre aquelas quatro paredes presenciando o embate
Única testemunha no declínio do romance
De uma só vez vi um herói e um anjo humanizarem-se
As minhas maiores referências criaram o meu maior medo
O matrimônio deixou de despertar em mim qualquer sentimento
Naquele mesmo instante morria o meu herói
E com ele, a vontade de uma vida a dois



Por: Dércio Ferreira

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